sexta-feira, 5 de agosto de 2016


Vi nascer,
dentro da sala de parto,
o meu foguetinho,
que sem chorar
e com os olhos azuis bem abertos,
viu este pai chorando
de emoção e alegria.
Ela sorriu ao ouvir e reconhecer
a minha voz.
Com quatro anos teve uma forte virose,
havia um surto de meningite em Niterói.
Eu fiquei ao seu lado,
em casa, todas as noites e dias,
dando Pedialite de meia em meia hora
durante quatro dias.
Na véspera do Natal
ela acordou curada
e foi imediatamente me procurar
para brincar,
sorrindo, como sempre fazia.
Ela adorava ir a praia,
cavar na areia
e beber água de coco,
passear comigo na pracinha,
andar no seu pedalinho rosa,
fazer bolhas de sabão,
ficar jogando e desenhando no computador
ao meu lado,
editando fotos já com três anos.
Ouvir histórias que eu contava
ou as músicas que eu cantava para ela,
antes dela adormecer.
Filho é parte da gente,
mora na alma,
não importa o que façam,
digam ou achem.
Não importa se o mundo
ou a vida separe.
Pai nunca é menos
nem mais,
é alicerce e raiz,
galho forte e proteção.
Quando um filho confia
e relata uma dor,
esta dor passa a cortar a carne
do velho pai.
Quando arrancam dos braços
quem neles buscou refúgio
e proteção,
esta dor dupla é sem reparação.
Muito se fala em amor,
amor é doação,
amor é confiança
e também confissão.
Criança nasce com asas,
o mundo vai atrofiando,
até que não possa mais usá-las.
Cada pedido de socorro
não ouvido,
cada dor no seu peito
atingido,
cada injustiça vivida,
vai matando a criança
que acredita
que no mundo existe sim
verdade e justiça,
mão amiga.
Quando a criança grita
por socorro,
relata fatos tão detalhados,
detalhes estes depois confirmados,
tem que ser levada a sério,
tem que ser ouvida.
O tempo perdido,
este não temos de volta.
Não é o gênero
o X da questão,
é quem poder acolher
e dar proteção.
Criança tem sim
sentimento e sabe perceber
quando algo ou alguém a agride,
faz mal.
Este velho pai que move mundo
e luta para que ela tenha voz,
pai que sente no peito
a dor que ela relatou,
o que passou,
encontra força onde não existia
para continuar firme
e vai prosseguir.
Tudo documentado, filmado
e relatado,
para que ela saiba
que este velho pai
fez e faz tudo o que pode
para que ela tenha voz,
para que a sua dor
e todo o tempo que perdeu,
não seja em vão,
para que a inocência
não passe calada
e em branco,
trancada no coração
de uma criança
que até ontem
acreditava em fadas.
(Pai herói by Marcelo Bernardo/ Trecho)
Foto by Marcelo Bernardo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário