Vivemos presos
ao nosso passado
e ao nosso futuro.
A nós, ligam-nos o
nosso passado
e o nosso futuro.
Passamos quase todo
o nosso tempo livre
e também quanto
do nosso tempo de trabalho
a deixá-los subir
e descer na balança.
O que o futuro excede
em dimensão,
substitui o passado em peso,
e no fim não se distinguem os dois.
A meninice torna-se clara
mais tarde,
tal como é o futuro,
e o fim do futuro já é de fato vivido
em todos os nossos suspiros,
e assim se torna passado.
Quase se fecha este círculo
em cujo rebordo andamos.
Bem, este círculo pertence-nos
de fato, mas só nos pertence
enquanto nos mantivermos nele.
Se nos afastarmos para o lado,
uma vez que seja,
por distração, por esquecimento,
por susto, por espanto,
por cansaço,
eis que já o perdemos no espaço.
Até agora tínhamos tido o nariz
metido na corrente do tempo,
agora retrocedemos,
ex-nadadores,
caminhantes atuais,
e estamos perdidos.
Estamos do lado de fora da lei,
ninguém sabe disso,
mas todos nos tratam
de acordo com isso.
(Franz Kafka)
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