sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Vivemos presos 
ao nosso passado 
e ao nosso futuro.
A nós, ligam-nos o 
nosso passado 
e o nosso futuro. 
Passamos quase todo 
o nosso tempo livre 
e também quanto 
do nosso tempo de trabalho
a deixá-los subir 
e descer na balança.
O que o futuro excede 
em dimensão, 
substitui o passado em peso, 
e no fim não se distinguem os dois.
A meninice torna-se clara 
mais tarde, 
tal como é o futuro, 
e o fim do futuro já é de fato vivido 
em todos os nossos suspiros, 
e assim se torna passado. 
Quase se fecha este círculo
em cujo rebordo andamos. 
Bem, este círculo pertence-nos 
de fato, mas só nos pertence
enquanto nos mantivermos nele.
Se nos afastarmos para o lado, 
uma vez que seja, 
por distração, por esquecimento, 
por susto, por espanto, 
por cansaço, 
eis que já o perdemos no espaço.
Até agora tínhamos tido o nariz 
metido na corrente do tempo, 
agora retrocedemos, 
ex-nadadores, 
caminhantes atuais, 
e estamos perdidos. 
Estamos do lado de fora da lei, 
ninguém sabe disso, 
mas todos nos tratam 
de acordo com isso. 
(Franz Kafka)
Ilustração: Franz Kafka

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