domingo, 31 de julho de 2016

Os deuses caminham 
entre coisas pisoteadas, 
segurando as pontas dos seus mantos
com gesto de asco.
Entre gatos podres, 
entre larvas abertas e acordeões,
sentindo nas sandálias
a umidade dos farrapos corrompidos,
os vômitos do tempo.

Em seu céu despido já não moram,
lançados fora de si por uma dor,
um sonho turvo.
Estão feridos de pesadelo e lama,
parando para recontar seus mortos,
as nuvens ao contrário,
os cães de língua quebrada...

A espreitar invejosos o abismo,
onde ratos eretos disputam chiando
pedaços de bandeiras.
(Os deuses - Julio Cortázar)
Clube de Leitura dos Poetas / Reading of Poets Society


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