Os deuses caminham
entre coisas pisoteadas,
segurando as pontas dos seus mantos
com gesto de asco.
Entre gatos podres,
entre larvas abertas e acordeões,
sentindo nas sandálias
a umidade dos farrapos corrompidos,
os vômitos do tempo.
Em seu céu despido já não moram,
lançados fora de si por uma dor,
um sonho turvo.
Estão feridos de pesadelo e lama,
parando para recontar seus mortos,
as nuvens ao contrário,
os cães de língua quebrada...
A espreitar invejosos o abismo,
onde ratos eretos disputam chiando
pedaços de bandeiras.
(Os deuses - Julio Cortázar)
Clube de Leitura dos Poetas / Reading of Poets Society
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