quinta-feira, 28 de julho de 2016

Ouso dizer que o amor é vento, 
é irreal e presente, 
é pão e vinho, 
aqui e ausente, 
é melodia encantada, 
semente soprada,
armadilha dourada,
flecha previamente envenenada.

Ouso dizer que o teu olhar
é feito da essência da noite
que estende sobre mim
o azul infinito
e as estrelas brilhantes,
encarcerando meu soma,
meus pensamentos,
meus sentidos humanos,-
todos arraigados à noite
do teu olhar.

Ouso dizer que andamos em círculos,
mãos invisíveis nos indicam caminhos
e todas as ruelas se cruzam,
diante de ti me encontro.
Este olhar de noite que surpreende
e assalta meu ser
na poesia que carrega mais oculta,
como se o sol invadisse
a tranquila escuridão da gruta.

Ouso dizer que o amor troveja
e segue veloz no nosso encalço,
léguas e luas atravessa
na dianteira da trilha,
e antes que nos encontrássemos,
o amor nos aguardava.

Em meio a esta trama
do destino e do vento,
teu olhar eu descubro
na tarde clara e solitária.
Meu ser percebeu
o que o seu buscava
e se reconheceu.
Desde então mergulhou no seu sonho,
amando a noite
ainda quando nasce o dia,
desejando o teu olhar
como o mar deseja a margem.

Então,
no gesto de ousadia suprema,
descrevo e escrevo
a onda e o vento
do que sinto e habita
o ser que fui,
no que me transformei.
Desde então
o meu olhar é noite.
(Ousadia by © Adriana Janaína Poeta/
2009)
Clube de Leitura dos Poetas / Reading of Poets Society
Imagem: Art by Sir Frank Bernard Dicksee.

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